Prestes a completar 50 anos de carreira, Djavan lança nesta terça-feira (11) seu 26º álbum de estúdio, “Improviso”. O artista sabe bem o peso de seu nome — um dos maiores da música brasileira —, mas diz que isso não faz diferença na hora de compor. O sofrimento é o mesmo de sempre, porque “compor é doloroso”. Em entrevista, Djavan afirmou:
“Fazer música não é uma coisa natural. Demanda esforço, uma concentração absurda. Você sofre porque, às vezes, acha que não vai conseguir. Mas é esse desafio que faz com que compor seja uma coisa tão sedutora. A composição é fruto de trabalho, ralação. Você tem que lutar para conseguir o que quer, sobretudo no começo. Quando você começa a compor, é muito difícil porque você não gosta de nada do que está fazendo. É horrível! Mas aí a coisa vai indo, engrenando. Quando você faz uma, duas músicas, pode até fazer dois, três discos.”
Apesar da ralação dolorosa — ou talvez por isso mesmo —, a composição virou quase um sinônimo de vitalidade para o cantor. “É natural que eu continue produzindo porque eu vivo disso. Não estou falando de questão material, mas psicológica. Tenho que compor porque isso me alegra, me dá felicidade e, principalmente, me mantém vivo.”
Com um álbum de inéditas a cada dois anos, Djavan conta que renova suas inspirações a partir de shows e viagens pelo mundo. “Toda aquela colheita deságua no disco. Coloco para fora tudo que absorvi das andanças por aí.”
Música para Michael Jackson, um passarinho assustado
Dessa vez, a colheita desaguou em um álbum que, apesar do nome, foi produzido meticulosamente. Com 12 faixas, o disco mistura jazz, samba, R&B e poesia djavanesca. Em “Pra Sempre”, o artista homenageia Michael Jackson. Embora a canção seja lançada só agora, sua produção começou em 1987, quando Djavan diz ter sido convidado para compor para “Bad” — um dos álbuns mais emblemáticos do rei do pop. O alagoano explica:
“Demorei para mandar a música. Não sei, não levei muito a fé [o convite]. Mas quando enviei, ele já estava mixando o disco”.
Ele conta que foi Quincy Jones quem o convidou. O americano era produtor do Michael e, além disso, trabalhava com Djavan. O brasileiro tinha ganhado destaque internacional em 1982, quando lançou “Luz”, álbum de hits como “Açaí”, “Sina” e “Samurai” — faixa que tem Stevie Wonder tocando gaita.
Além de convidar Djavan para “Bad”, Quincy promoveu um encontro entre os cantores. O alagoano conta que foi estranho. Michael “parecia um passarinho”, e o tempo todo aparentava estar “meio assustado”. Ainda assim, ele diz que foi ótimo estar com o rei do pop: “Nos recebeu com bastante naturalidade”. Desde então, Djavan guardava aquela melodia que havia composto para “Bad”, mas não tinha planos para ela. “Meus filhos sempre ficaram instigando: ‘Grava, grava, grava’. Eu achava que isso não fazia sentido. Mas, agora, decidi gravar. Fiz a letra e gravei.”
Os versos de “Pra Sempre” pintam Michael Jackson como alguém imortal e “pendurado na nuvem, mas muito longe do céu”.
Imagem: Divulgação
Texto: g1